segunda-feira, 16 de outubro de 2006



Carpe Diem!
Não procures, Leuconoe, - ímpio será sabê-lo -
que fim a nós os dois os deuses destinaram;
não consultes sequer os números babilónicos:
Melhor é aceitar! E venha o que vier!
Quer Júpiter te dê ainda muitos Invernos,
quer seja o derradeiro este que ora desfaz
nos rochedos hostis ondas do mar Tirreno.
Vive com sensatez destilando o teu vinho
e, como a vida é breve, encurta a longa esperança.
De inveja o tempo voa enquanto nós falamos:
trata pois de colher o dia, o dia de hoje,
que nunca o de amanhã merece confiança.
Horácio
(Tradução de David Mourão-Ferreira)

domingo, 8 de outubro de 2006



São 5:18 da manhã no relógio do meu PC, e não consigo dormir...
Tu sabes. Eu também sei.Nós sabemos. Acontece que, agora, nem mais cedo nem mais tarde, estamos a conjugar o verbo de outra forma.
Sei que é um dos defeitos que descobriste em mim, recentemente, mas fazer perguntas, independentemente das respostas, é sempre uma forma de análise e de explicação. Defeito profissional? Contudo, uma série de perguntas levitam, fantasmagóricas, na minha cabeça e precisava de te ter aqui, para me beijares a testa e acariciares o cabelo até eu adormecer...

Em primeiro lugar, faço questões a mim própria:
Porque é que eu, que tantas e tantas vezes, impedi ou condicionei que momentos como estes tivessem lugar e forma, sucumbi numa noite cansada de sexta-feira, familiarmente vestida com um casaco de malha quente, gasto e confortável? Porque o cansaço de fim-de-semana, que me limpara os vestígios de maquilhagem, que desalinhara o cabelo, que, enfim, roubara todo o glamour e beleza que eu supostamente deveria ter, deixou arrombar os portões pesados da censura, da contenção, do bom senso, do recalcamento, da razão? Porque os relógios não pararam de dar aos ponteiros (formigas irritantes!) e aquele instante não se tornou intemporal e perdido na imensidão do tempo que não é térreo e pesa em nós? Porquê o rubor do casaco?
Porque é que um flirt casual, espontâneo de uma noite fresca de Outono, tendeu a repetir-se? Ou melhor, porque é que a vontade e o desejo de que se repetisse permaneceram em mim e nós não conseguimos recuar? Porque é que o teu cheiro habita em mim? Porque é que os teus beijos me ardem, ainda, nos lábios? Porque é que o teu toque me tortura, ainda, a pele? Porque é que penso em ti?
Porque é que eu, contrariamente ao comumente esperado, não me sinto culpada? Com remorsos? Porque é que não me apetecem as exigências e os compromissos, se sempre valorizei o concreto como forma de me sentir mais segura? Porque é que tenho, hoje, uma insónia?